sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Emendas parlamentares e compra de votos

Em um momento que as emendas parlamentares estão em alta, e pudemos ver o “presidente” Michel Temer distribuindo-as de maneira significativa a alguns dias atrás. Resolvi escrever um pouco sobre aqui, pois encontrei sem querer um livro de um ex-juiz, o redator da ficha limpa, que fala sobre a prática da política brasileira, referenciado abaixo.

Começando a leitura, no segundo item/capitulo, intitulado “assalto ao orçamento” ele fala sobre os processos, dando inicio por destacar que um deputado tem direito a dois gabinetes (em Brasília e no estado de origem) e também pode “dar” 25 postos de trabalho a até 25 secretários parlamentares. (imaginemos o gasto disso e claro toda uma estrutura de controle e promessa a essas pessoas). Seguindo, o autor, destaca alguns meios de se obter dinheiro direto para si e para futuros financiamentos de campanha. Pois bem, “você já deve ter ouvido falar em emendas parlamentares, mas provavelmente nunca se interessou de fato em saber o que elas são. A maior parte da população instruída – falo de gente que acompanha o noticiário –, vê com profundo tédio as reportagens sobre o impasse na aprovação do orçamento, quando  parlamentares  de  todos  os  partidos  e  todos  os  Estados  se  digladiam  para  obter  uma  fatia maior  de  recursos  a  serem  distribuídos  em  seus  redutos  eleitorais.  Sim,  tudo  isso  é  muito  chato. E quanto mais modorrenta a coisa parecer, menos fiscalização sobre nós (deputadas/os). É maior o espaço de manobra para obtermos verbas vultuosas que alocaremos do modo que nos for mais conveniente”.

Onde as/os deputadas/os tem a abertura e possibilidade de alterar o direcionamento do conteúdo dos recursos e orçamentos da união, onde “são até 21 emendas por deputado. Nem tudo é aprovado, claro, porém as perdas já são  calculadas  de  antemão.  Dá  para  comprometer,  só  com  as  emendas incorporadas  ao  orçamento,  perto  de  R$  20  bilhões.” E ainda como apontado por um relato de um deputado entrevistado “uma das facilidades de burlar o sistema vem justamente de não ser obrigatória a proximidade geográfica entre a base eleitoral do parlamentar e a sede da entidade beneficiária. Fica mais difícil o trabalho para qualquer promotor ou ativista chato. Além disso, tenho 14 prefeitos sob minha influência. Eles me ajudam a ser eleito. Eu os ajudo a permanecer  no  poder  em  seus  municípios.  Eles  precisam  de  dinheiro.  Eu  preciso  de  dinheiro. A emenda parlamentar é uma fonte certa e segura de garantir que nossas necessidades sejam atendidas.” E ainda afirma que “todo deputado sabe disso: as emendas são a chave da próxima eleição. É o nosso financiamento público de campanhas, onde precisamos ter certeza de que uma parte significativa do dinheiro das emendas retornará para a nossa campanha eleitoral.”

E ainda ressalta que “é por isso que existem governo e oposição. A diferença entre ser governista e ser oposicionista reside em ter maior ou menor acesso às emendas. Mas todos nós temos acesso em algum nível, e esse dinheiro será sempre destinado para finalidades eleitorais. Ele assegura que saiamos na frente dos nossos adversários. Além de prover dinheiro fácil para a campanha, a emenda traz outra vantagem preciosa para  o parlamentar que ambiciona se reeleger. De imediato, mostra às nossas bases eleitorais que somos influentes  o  bastante  para  levantar  recursos  em  benefício  delas.  Isso  fortalece  as  relações  de confiança que mantemos com as prefeituras parceiras.” Nisso podemos ver nitidamente em nossos municípios os ônibus e construções que ficam expostos como se fosse mérito do deputado com sua imensa boa vontade em “ajudar” a população. O que não passa de uma ilusão, pois o único interesse é o beneficio próprio e de sua base. Para ilustrar isso o autor destaca que “para monitorar essa cadeia com  eficácia,  nós  construímos  relações  sólidas  com  as empresas,  as  prefeituras,  as  instituições  de  nossa  confiança.  Elas sempre  atuam  como  nossas parceiras, de comum acordo com nossos objetivos eleitorais. O que nós queremos é bom para elas. Por isso, nunca encontramos problemas em obter ajuda desses parceiros.” 

Alguns exemplos dessas práticas: Jacareiguara e Passa-Seis são duas cidades do meu Estado. O posto de saúde de Jacareiguara está desativado há sete meses, devido a uma tromba-d’água que levou o teto da enfermaria e destruiu as instalações internas. Em Passa-Seis, o posto funciona normalmente, com um inconveniente: quando chove muito forte, várias goteiras deixam a área de espera inundada. Uma boa reforma resolveria o problema em Passa-Seis, porém o prefeito Alcides Taveira, meu amigo e correligionário, quer uma nova unidade de saúde para inaugurar no ano da eleição. Claudio Zanetta, o prefeito de Jacareiguara, realmente precisa de um posto de saúde e está batalhando por isso: a necessidade o fez engolir o orgulho a ponto de vir bater à porta do meu gabinete. Justo comigo. Eu, antigo desafeto do Zanetta no diretório estadual do partido. Adivinhe para quem eu vou destinar a emenda?” 

Outro exemplo: “Quando cheguei a Eustáquio, já estava tudo pronto para a inauguração. Era uma escola prevista para  ter  dez  salas  de  aula.  Mas, na  hora  da  distribuição  dos  recursos,  as  coisas  não  saíram  bem assim. A escola ficou com seis salas de aula. Todas pequenas, mas excelentes para as crianças. Elas serão acomodadas com relativo conforto graças a outra pequena modificação no projeto: a mobília prevista no edital, uma cadeira e uma pequena mesa para cada aluno, foi substituída por carteiras universitárias,  aquelas  em  que  o  estudante  usa  a  extensão  de  um  braço  da  cadeira  para  apoiar  o material. Ganhou-se espaço sem nenhuma perda para a população.” Como a população desconhece os projetos em que os recursos são destinados, não se dão conta das alterações para desvio de dinheiro.

O que fica é a ideia na população de que “o nobre deputado, não esqueçam, já  provou  que  é  amigo  dos  seus  amigos.  Na  hora  da dificuldade, é ele quem socorre o nosso município. Por isso, nunca nos esqueceremos de retribuir o seu carinho por Eustáquio Pessoa”. Onde apontam que “conseguir uma emenda não é fácil. Exige muito esforço do parlamentar que, além do mais, precisa atender a uma multidão de pessoas que o procuram atrás desses recursos. Então, nada mais justo que remunerar de alguma maneira  essa  atuação  do  deputado.  Não  pode  passar  em  branco.  Suamos  a camisa para direcionar o dinheiro, e quem vai recebê-lo sabe que merecemos bem mais do que um “muito  obrigado”.  Afinal, como  vamos  nos  eleger  para  continuar  trazendo  dinheiro  para  a comunidade?, o autor ainda destaca que  “o  deputado  que  conquistou  a  emenda  tem  direito  a  20%  do  valor transferido. No mínimo.” Outro dado alarmante, pois porque um deputado tem que receber dinheiro por fora do seu salário para executar algo que já foi pago. A partir desses argumentos podemos perceber como o dinheiro da população é tratado como algo próprio deputada/o ou representante e utilizado para o enriquecimento e perpetuação de um sistema político que tem por base o desvio de dinheiro, a corrupção escancarada.

Qualquer semelhança não é mera coincidência com o que temos vivenciado, seja o município em que estivermos. Sei que estamos em um momento muito critico, e não sabemos o que fazer e para quem denunciar as coisas erradas que vamos descobrindo, mas o que me conforta é a possibilidade de ir compartilhando esses conhecimentos para que analisemos o que nos vem sendo “imposto” por uma via mais critica e que na hora certa para nos juntarmos em algo tenhamos uma compreensão mais ampliada da realidade em que estamos inseridas/os.

Relatos e citações retiradas do livro: "O nobre deputado" de Márlon Reis, entendo que houve muitas polêmicas em cima do livro e da imprensa, porém a intenção não é generalizar que todas/os deputadas/os realizam essas práticas, porém é preciso destacar e repudiar esse tipo de prática e modelo de “política”.   

Abaixo o links de alguns exemplos recentes dessas práticas, quentinho, aconteceu esses dias em rede nacional:




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